segunda-feira, 26 de julho de 2010

Revolução Industrial


A Revolução Industrial constitui um importante tema no mundo contemporâneo, conceituada e analisada sob diversos pontos de vista. Segundo Tranter a Revolução não passou do resultado esperado de um longo processo de evolução técnica, iniciando a Pré – História quando o homem começa a fabricar seus próprios instrumentos. A Revolução Industrial seria apenas uma etapa longa e contínua da história do progresso humano. Assim Tranter diz que:

“A Revolução Industrial britânica foi um acontecimento muito modesto que emergiu lentamente do passado como parte de um longo processo evolutivo, e não como um corte abrupto, instantâneo, em relação à experiência tradicional: sua tecnologia assentava – se em pequenas escalas e era comparativamente primitiva; ela necessita de pequeno investimento adicional de capital; sua capacidade para introduzir tecnologia poupadora de mão de obra era circunscrita; e seu ritmo foi gradual e sem coordenação.” (TRANTER, p. 226).

Para outros autores a Revolução Industrial representa uma ruptura, pois gera alterações significativas no ritmo da produção e da estrutura social abrindo espaço para um mundo novo, rompendo com o passado e, portanto, dando origem a uma nova organização da vida humana. Sobre isso Maurice Dobb diz o seguinte:
“(...) Uma era de alterações técnicas que rapidamente aumentava a produtividade do trabalho testemunhou também o aumento natural anormalmente rápido das fileiras do proletariado, juntamente com uma série de acontecimentos que alargaram simultaneamente o terreno do investimento e o mercado dos bens de consumo em grau sem precedente.” (DOBB, p.314)

Segundo alguns historiadores a visão mais adequada seria a de Maurice Dobb que conceitua a Revolução Industrial como um momento de transformações no processo produtivo durante a segunda metade do século XVIII. Essa mudança não se restringiu ao campo das técnicas, mas afetaram a vida humana em todos os aspectos, transformando – na em um dos seus fundamentos: o mundo do trabalho. Essas alterações vão consolidar uma nova forma de organização da sociedade humana conhecida como sistema capitalista.
Aponta – se que a Revolução Industrial teve inicio na segunda metade do século XVIII quando na Inglaterra surgiram as primeiras fábricas, as primeira máquinas, os primeiros operários. Explica – se que esse pioneirismo inglês deu - se devido à disponibilidade dos fatores necessários ao processo de industrialização: capital, mão – de – obra, mercado consumidor e fornecedor de matérias – primas, além de uma estrutura política favorável e por fim o bom desenvolvimento tecnológico. Considera - se que foi o ouro do Brasil o responsável pelo processo de acumulação de capitais na Inglaterra e, consequentemente, pela industrialização. A metrópole portuguesa fez uma aliança com a Inglaterra em 1703, assinando o Tratado de Methuen,pelo qual Portugal abria o mercado do Império Colonial para os tecidos ingleses,em troca ofereceria os vinhos portugueses.Porém,os vinhos de Portugal não cobririam as altas importações de tecidos inglês,por isso a coroa se viu obrigada a pagar as dividas com a Inglaterra com o ouro do Brasil colonial.Esse fato contribuiu para que a acumulação capitalista se completasse na Inglaterra e não em Portugal,que tinha que entregar os recursos coloniais aos ingleses.
É importante ressaltar que nos séculos XVII e XVIII a Inglaterra era um dos impérios coloniais que mais acumulou capital na fase do capitalismo comercial. Por isso pôde iniciar sua industrialização já no século XVIII. A partir de 1770, aproximadamente, até 1850, houve naquele país grande transformação social e produtiva chamada pelos estudiosos de Revolução Industrial. No século XIX, essa revolução chegou a outros países da Europa, à Ásia e à América. Mais recentemente, a todas as partes do planeta.
Com a Revolução Industrial, quase todos os vestígios da sociedade feudal desapareceram e um novo modo de vida surgiu marcado pela produção em massa, pela expansão das cidades e pela divisão da sociedade em burgueses e proletários. A era da fábrica havia chegado.

1. Etapa da Revolução - As mudanças foram profundas na estrutura socioeconômica e política, graças ao aperfeiçoamento na organização da produção e ao avanço tecnológico. A produção passou por diferentes etapas, vejamos:

Produção artesanal: no inicio, a produção foi realizada através do artesanato. O produtor direto (o artesão) era o dono dos instrumentos de produção, desde a matéria-prima até as ferramentas. Tinha a vantagem de possuir pleno controle sobre todas as fases do processo produtivo, bem como da distribuição do produto final.
Este tipo de produção foi dominante no medievo, quando não havia uma divisão social do trabalho plenamente estruturada e a produção não era capitalista. O artesão trabalhava em casa com a ajuda da família. Convém salientar que o mercado era restrito, geralmente localizado.
Produção manufatureira: com a expansão das trocas e o surgimento de um mercado internacional, o trabalho artesanal foi sendo substituído por um trabalho mais dividido, cuja característica era a concentração de numerosos trabalhadores num mesmo local, sob a direção de um mestre. Os trabalhadores eram divididos por tarefas especificas, portanto, já havia uma divisão social do trabalho, o que possibilitou o aumento da produção para atender o mercado.
Esse tipo de produção foi típica da economia mercantilista, portanto,estava ligada e limitada aos interesses do Estado,que ditava as regras da economia.
Produção mecanizada ou Fase da maquinofatura: é o momento da produção mecanizada nas fábricas, ou seja, o uso das máquinas. A oficina foi substituída pela fábrica, e as máquinas, a matéria – prima, o combustível e os produtos passaram a pertencer ao proprietário dos meios de produção. Na fábrica, concentravam – se centenas de trabalhadores assalariados que obedeciam a uma rígida divisão social do trabalho. Na fase da maquinofatura, a burguesia passou a ser proprietária dos meios de produção (matéria – prima e máquinas) e a comprar a força de trabalho humano. O artesão passou a vender seu trabalho para o empresário, surgindo assim o mercado de trabalho. Esse artesão foi transformado em operário, aquele que produz, porém o produto e seu lucro pertencem ao capitalista. As mulheres e as crianças eram contratadas por salários mais baixos e passavam por vários problemas de trabalho, entre eles, os castigos físicos e o assédio sexual.

2. Etapa da Revolução: A Inglaterra foi favorecida pelos seguintes fatores:

Capital: a Inglaterra, em meados do século XVIII, possuía enorme quantidade de capital acumulado através de suas atividades comerciais desenvolvidas ao longo da Idade Moderna. Nesse período, comerciantes ingleses dedicaram – se ao comércio internacional, à exploração colonial, ao tráfico de escravos (abastecimento do mercado escravista colonial brasileiro de mão – de – obra africana) e à pirataria, obtendo assim, vultosos lucros. Essas atividades foram especialmente incentivadas a partir da decretação dos Atos de Navegação (1651) ,quando a Inglaterra passa a ocupar lugar hegemônico nas atividades mercantis internacionais,posição antes desfrutada pela Holanda. Esse capital foi obtido, ainda, através do desenvolvimento da manufaturas, onde um empresário burguês organizava a produção e distribuía a matéria – prima aos artesãos, vendendo o produto final e ficando com os lucros.
Mercados: devido à sua intensa atividade comercial, a Inglaterra dispunha de um grande mercado externo para colocar seus produtos. Além disso, sua expansão colonial lhe permitia consumidores exclusivos na América, Ásia e África, atingidos por sua potente e numerosa esquadra. A supremacia marítima foi fator preponderante para o acúmulo capitalista inglês, que contribuiu na ampliação da visão empresarial inglesa, pois os contatos com os diferentes mercados e sua carência de produtos estimularam a produção industrial, que visava suprir o mercado, criando novos hábitos de compra. Também o mercado interno se expandia, graças ao aumento populacional verificado ao longo do século XVIII.
Tecnologia: o surgimento das primeiras máquinas explica – se por essa necessidade de atingir o mercado em crescimento. Foi o setor têxtil o primeiro a desenvolver máquinas, seguindo dos setores metalúrgicos e de transportes.
· Mão - de - obra: o uso capitalista da terra, o acúmulo de capitais viabilizou os investimentos na área rural, ocorrendo um controle capitalista do campo pela burguesia agrária e nobres que possuíam uma visão capitalista da terra – os quais inclusive já haviam adotado as relações de trabalho assalariado.Esses grupos adotaram a prática capitalista através do enclousures,ou seja,o cercamento dos campos e definição da propriedade privada dos meios de produção.
O objetivo dos enclousures era a produção agrícola voltada para o mercado, cujos critérios eram capitalistas. Portanto, o campo se tornava uma verdadeira empresa capitalista, a qual produzia para atender à industria nascente.Entretanto,os enclousures foram responsáveis pelo acentuado êxodo rural,visto que milhares de trabalhadores migravam para os centros industriais à procura de empregos nas fábricas,os quais se tornavam mão - de - obra disponível à maquinofatura.
Dessa forma, os empresários capitalistas passavam a contar com uma mão – de – obra numerosa e dependente, totalmente desvinculada dos meios de produção, o que lhe favorecia sobremaneira nas novas relações de trabalho que se estabeleciam.
· Matéria – prima: as indústrias que nasciam na Inglaterra podiam contar com as vastas jazidas de ferro e carvão existentes em seu território, além do algodão para a indústria têxtil, originário de suas colônias americanas e da Índia.
· Ampliação dos empréstimos a juros: com a criação do Banco Nacional da Inglaterra ,em 1694 , ficou mais fácil a obtenção de critérios para a aplicação na indústria e no investimento às invenções técnico – científicas da época.
· Crescimento populacional : a população inglesa do século XVIII cresceu vertiginosamente , graças ao controle das epidemias e ao aumento da produção agrícola. Aliado a esse fato, o êxodo rural gerou grande oferta de trabalhadores no mercado de trabalho, surgindo inclusive um exército de reservas de trabalhadores, os quais esperavam a ampliação da fábrica ou a demissão de outros operários para então poderem trabalhar.
· Revolução Gloriosa: essa revolução burguesa transformou o Parlamento britânico num efetivo órgão dirigente do Estado, favorecendo assim as decisões dos empresários ingleses, que dispunham dele como um poder de decisão. A partir daquele momento, o Parlamento passou a ser utilizado para orientar a política econômica do país, instalado em definitivo a ordem burguesa, cuja expressão máxima passou a ser o laissez faire, momento em que se liquidou com o mercantilismo e se adotou o liberalismo econômico.
Todos esses elementos foram decisivos à industrialização inglesa, por isso, eles se constituíram no cenário perfeito para que os cientistas apresentassem as suas invenções que revolucionaram a indústria, pois a Inglaterra foi o local das primeiras invenções de máquinas. Vejamos:
1712 – Invenção da máquina a vapor, por Newcomem, que servia para bombear água da minas de carvão.
1735 – Produção do ferro com carvão – coque, pó Darby.
1767 – Desenvolvimento da máquina de fiar, a Spinning Jenny, por James Hargreaves.
1769 – Aperfeiçoamento da máquina a vapor, por James Watt. A partir desse instante a nova energia passou a ser utilizada nas máquinas de fiar e tecer, por Richard Arkwright.
1785 – Invenção do tear mecânico,por Richard Arkwright.
Nessa época , a industrialização foi quase que uma exclusividade inglesa. O setor industrial mais desenvolvido era o têxtil e a força motriz utilizada era o carvão.

3 comentários:

  1. Muito boa sua matéria. A Revolução Industrial é um tema muito relevante,e as vezes, pouco compreendido.Você retratou com muita clareza o realmente foi esse processo. Sabemos quais foram os beneficios e também as consequências da industrialização, principalmente para o meio ambiente, afetando diretamente os seres humanos.

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  2. A Revolução Industrial , deu um novo marco para a humanidade .Entretanto os capitalistas enriqueceram rapidamente .Mas o proletariado das indústrias trabalhavam muito e recebiam pouco .Para lutar por seus direitos , organizaram os sindicatos e promoveram as greves.

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  3. A exploração colonial inglesa, inclusive do Brasil, foi o motor da Revolução Industrial. Gostei muito da sua postagem.

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